Você sabia que as baleias têm 'piolho'? Parasitas são crustáceos pouco conhecidos

  • 20/11/2023
(Foto: Reprodução)
Cetáceos podem ser infestados por até 7.500 indivíduos que, geralmente, afetam as regiões genitais, das narinas, olhos e feridas. Conheça quem são os 'piolhos-de-baleia' Pedro Henrique Tunes Enquanto os piolhos que afetam os seres humanos, aves e até mamíferos que vivem na água como focas e leões-marinhos são insetos da ordem Phthiraptera, os 'piolhos-de-baleia' são, na verdade, crustáceos da família Cyamidae que se associam exclusivamente aos cetáceos (baleias, botos, golfinhos e cachalotes). Mesmo sendo animais completamente diferentes, ambos são parasitas que vivem nas regiões genitais, das narinas, olhos e em feridas dos seus hospedeiros. Existem 31 espécies conhecidas de piolho-de-baleia que, apesar do nome popular, ocorrem também em outros cetáceos como golfinhos e cachalotes Pedro Henrique Tunes "Os piolhos-de-baleia podem ser até 50 vezes maiores que o piolho verdadeiro e possuem pares de pernas adaptados para segurarem nos hospedeiros. Existem 31 espécies conhecidas que geralmente se alimentam de algas, pele morta e, ocasionalmente, dos animais que ficam grudados", explica o biólogo Pedro Henrique Tunes, que já fotografou os piolhos-de-baleia. As espécies de piolhos-de-baleia são bem pequenas, sendo que as maiores podem atingir os 25 milímetros. Apesar disso, os piolhos-de-baleia geralmente não causam danos sérios à saúde dos cetáceos, desde que já não estejam previamente doentes, mas isso não significa que eles não causam incômodo. "Alguns cientistas acreditam que os saltos das baleias são também para tirar esses parasitas do corpo", comenta a bióloga e pós-doutoranda do Departamento de Genética e biologia Evolutiva da USP Tammy Iwasa Arai, que há anos estuda a interação dos cetáceos com esses piolhos. Pouco se sabe sobre esses piolhos, mas no geral eles possuem uma reprodução interna, não contam com uma fase larval capaz de nadar e a maioria das espécies são específicas, ou seja, só ocorrem em uma espécie de cetáceos. "Existem espécies de piolho-de-baleia ainda mais específicas, que são dependentes do sexo do animal, com machos e fêmeas sendo povoados por espécies distintas. Não se sabe exatamente o por quê dessa divisão, mas acredita-se que é por causa das relações sociais mesmo", diz Tunes. A transmissão dos piolhos-de-baleia ocorre através do contato direto Júlio Cardoso/Projeto Baleia à Vista Como ocorre a transmissão? Como esses piolhos não conseguem nadar livremente, o modo de transmissão é através do contato direto. "Cada baleia possui a própria população de piolho no corpo e quando uma baleia entra em contato com a outra, quase sempre da mesma espécie, essas populações de crustáceos também se cruzam e nesse momento pode acontecer migrações e um fluxo genético entre eles", esclarece Pedro. Devido à essa especificidade os piolhos-de-baleia podem mostrar padrões de migração, como apontado em um estudo conduzido por Tammy que revela que jubartes do Brasil interagem com jubartes da Nova Zelândia, já que foi encontrada uma mistura de piolhos em ambas. Na cachalote, piolhos são dependentes do sexo do animal, com machos e fêmeas sendo povoados por espécies distintas de piolho Alizeebrl/iNaturalist Apesar das espécies de piolhos geralmente estarem associadas a espécies específicas de cetáceos, às vezes ocorrem misturas. O piolho Cyamus boopis, que parasita as jubartes, por exemplo, já foi encontrado em um golfinho-nariz-de-garrafa. Acredita-se que a transmissão aconteceu através do contato entre os indivíduos em um momento de brincadeira (algo comum entre essas duas espécies). O estudo desse caso também foi liderado pela pesquisadora brasileira que acredita que o piolho não sobreviveria no hospedeiro incomum. "Apesar dessas ocorrências pontuais serem registradas, nenhuma população se estabeleceu ao longo do tempo em hospedeiros compartilhados entre baleias e golfinhos", esclarece Tammy. Mas a história mais impressionante, também relatada por ela em conjunto com outros pesquisadores, ocorreu com um filhote de baleia-franca-austral (Eubalaena australis) que, em 2017, foi encontrado encalhado na costa sudeste do Brasil infestado com piolhos das jubartes. A interação entre essas baleias é extremamente rara. Na época mais de 300 piolhos foram coletados do animal encalhado e a única espécie identificada com base em dados morfológicos e moleculares foi Cyamus boopis, um ectoparasita típico e até então exclusivo das baleias-jubarte, apontou o estudo. Ainda de acordo com o material publicado, esse achado representou o primeiro registro de C. boopis em baleias-francas-austrais e a presença do piolho-de-baleia da jubarte, junto com a ausência dos três parasitas específicos das baleias-francas, sugeriu uma interação interespecífica entre essas baleias com base na biologia do parasita. Mas, assim como o parasita encontrado no golfinho, Tammy acredita que os piolhos-de-baleia jubarte encontrados na baleia franca-austral, também não sobreviveriam. "Até porque esses registros foram feitos em cetáceos que encalharam", diz. Em 2017, um filhote de baleia-franca-austral (Eubalaena australis) foi encontrado morto em uma praia, sem nenhum piolho de baleias-francas, mas infestado com os piolhos da espécie Cyamus boopis, exclusiva de jubartes. PaleofaunaBR Infestações Uma única baleia pode ter uma infestação de mais de 7.500 piolhos que, muitas vezes, irão viver associados às cracas presas no animal, mas isso varia de acordo com a espécie de cetáceo e a espécie de piolho. "As três espécies de baleia-franca, por exemplo, sempre estarão infestadas. Ela nasce sem piolho, pega eles da mãe durante a amamentação e à medida que vai ficando mais velha fica infestada dos parasitas. Outras espécies só são infestadas em casos específicos em que uma está infestada e passa para outra", esclarece Tunes. Uma baleia jubarte encontrada morta na praia infestada de piolhos (pequenos crustáceos vermelhos) Pedro Henrique Tunes Ainda não se sabe ao certo o motivo das infestações, mas quanto mais doente o cetáceo está, maior é a quantidade de piolhos que ela terá, então o sistema imunológico desses animais interfere na quantidade dos parasitas presentes neles. "Além disso, os piolhos tendem a se acumular também em feridas, então quanto mais machucados e arranhões, mais parasitas terão", finaliza o biólogo.

FONTE: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2023/11/20/voce-sabia-que-as-baleias-tem-piolho-parasitas-sao-crustaceos-pouco-conhecidos.ghtml


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